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Tão
logo assinou a lei que criava a Novacap, em 19 de setembro de 1956,
Juscelino desejou conhecer o sítio onde se ergueria a nova Capital
e marcou a viagem para dois de outubro.
Foi um corre-corre. Faltavam poucos dias e era preciso melhorar
o improvisado campo de pouso que Bernardo Sayão, à época vice-governador
de Goiás, abrira no cerrado a pedido do Marechal José Pessoa, Presidente,
então, da Comissão de Localização da Nova Capital Federal. O Marechal
havia pedido ao Governador Juca Ludovico três providências: a construção
do campo de pouso, o erguimento de uma cruz no ponto mais alto da
região e a abertura de uma estrada de acesso à cachoeira do Paranoá.
As chuvas do início da primavera daquele ano danificaram a pista
improvisada, que a vegetação aos poucos ia retomando. Para a visita
de Juscelino fazia-se mister reparar o campo. Sayão partiu de Goiânia
e com as máquinas do DERGO (Departamento de Estradas de Rodagem
do Estado de Goiás) limpou e melhorou a pista onde, no dia 2 de
outubro, por volta de meio dia, um avião da FAB pousava, trazendo
o Presidente. Acompanhavam Juscelino o General Teixeira Lott, seu
Ministro da Guerra; o Almirante Lúcio Meira, Ministro de Viação;
Antonio Balbino, Governador da Bahia; General Nelson de Melo, Chefe
da Casa Militar; Israel Pinheiro, Presidente da Novacap; Brigadeiro
Araripe Macedo, da FAB; Comandante Marcelo Ramos, Ajudante de Ordem
do Presidente; Major Dilermando Silva, Sub-Ajudante; Engenheiro
Regis Bittencourt,
Diretor do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem);
e os aviadores Coronel Lino Teixeira, Coronel Renato Goulart, Coronel
Celso Resende Neves, Major Múcio Scorzelle e Capitão Gama e Souza.
Estavam também a bordo o arquiteto Oscar Niemeyer e Ernesto Silva,
Diretor Administrativo da Novacap, além de alguns membros do Conselho
Nacional de Desenvolvimento, recentemente criado, e outros convidados
do Presidente.
Em terra, aguardando o avião, à sombra de um comprido galpão de
madeira e palha que Sayão mandara levantar à beira do campo, encontravam-se
o Governador Juca Ludovico, o próprio Sayão (já nomeado Diretor
Executivo da Novacap), Altamiro de Moura Pacheco, Presidente da
Comissão de Cooperação instituída um ano antes pelo Governo de Goiás
com a finalidade de colaborar nos trabalhos de mudança da Capital,
jornalistas e ainda outras pessoas.
Abordado por jornalistas o Presidente confirmou sua decisão de transferir
a Capital, declarando que transmitiria o Governo ao seu sucessor
nessa nova Capital, cuja construção logo teria início e que estaria
em condições de permitir a mudança num prazo-limite de 3 anos e
10 meses, já aceitos pelos Diretores da Novacap.
Do campo de pouso deslocaram-se todos para onde se erguia um grande
cruzeiro, de madeira escura. Era o ponto mais alto da região e permitia
visão ampla do local escolhido para a futura cidade. Esse cruzeiro
fora aí chantado também a pedido do Marechal Pessoa.
Naquele momento, contemplando a paisagem aberta que a vista alcançava
a perder-se no horizonte, Juscelino chamou Israel e Niemeyer, e
se afastaram do grupo. E então decidiram, definitivamente, adotar
solução, que já vinha sendo examinada, de não aguardar o resultado
do Concurso do Plano Piloto para dar início às obras. Alguma coisa
se poderia fazer desde logo, sem prejuízo do Concurso, cujo prazo
se estenderia, ainda, até meados de março do ano seguinte, quase
seis meses, portanto, mais tarde. Ficou acertado que se estabeleceria,
logo, um núcleo de apoio para as obras que iriam se desenvolver,
em ritmo acelerado, a partir da escolha do projeto da cidade e se
começaria, de imediato, a construção do Palácio Residencial do Presidente
e de um Hotel, do melhor nível, para receber não só os visitantes
mas todos aqueles que viessem para ficar e não tivessem, de início,
pouso certo.
Do cruzeiro dirigiram-se à Fazenda do Gama em cujas imediações se
pretendia localizar o acampamento pioneiro. O local era muito bonito,
com uma pequena floresta exuberante que contrastava com o cerrado
em volta e alguns olhos d'água jorrando cristalinos à sombra das
árvores seculares.
Como Juscelino mostrasse desejo de sobrevoar a região, o Governador
Ludovico lhe cedeu o pequeno avião em que viera de Goiânia. Com
o Presidente foram Ludovico e Altamiro, este profundo conhecedor
da região.
No regresso de seu vôo, Juscelino de novo chamou Israel e Niemeyer
e com as plantas e mapa que tinha em mãos, escolheu o local aproximado
para o Palácio Residencial e o Hotel, obras pioneiras que mais tarde,
a 1° de novembro, em nova viagem à região, Israel, Niemeyer e o
Eng° Marco Paulo Rabelo, localizariam com exatidão, tendo o cuidado
de situá-las às margens do futuro lago, num dos extremos da área
prevista para a cidade, afim de evitar qualquer prejuízo ao desenvolvimento
dos projetos que os urbanistas e arquitetos brasileiros estavam
elaborando para concorrer à escolha do melhor plano-piloto.
Ao anoitecer houve o regresso ao Rio. Foi nessa viagem de volta
que Juscelino pediu ao General Lott umas barracas de lona, do Exército,
afim de alojar os primeiros engenheiros e operários que chegariam
em breve ao Planalto para as obras e o Ministro, confuso com tudo
que vira e ouvira nesse dia, perguntou, em dúvida:
— Mas presidente, o senhor vai mesmo transferir a Capital?
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