Como um dos grandes de nossa história, a figura de Juscelino Kubitschek de Oliveira impunha que seu exemplo, sua vida, sua obra e seus ideais democráticos não fossem esquecidos e que sua memória fosse preservada. Dona Sarah Kubitschek põe-se em campo para adquirir, em Brasília, um terreno onde construiria um monumento em memória de JK. O projeto de Oscar Niemeyer contempla as três finalidades do Memorial JK:

MAUSOLÉU para os restos mortais do Presidente Juscelino.

MUSEU constituído de peças e documentos que mostram as principais passagens da vida e da obra de JK.

CASA DE CULTURA, onde uma programação bem orientada pode manter acesa a chama de idealismo, a preocupação cultural e o dinamismo, que foram características marcantes da personalidade do Presidente Juscelino.

Dona Sarah convoca alguns amigos: Adolfo Bloch, Renato Azeredo, Olavo Drumond e tantos outros. Inicia a luta para a construção e inauguração do Memorial JK. O Ministro Said Farhat, informado por Sérvulo Tavares (jornalista e amigo da família) do desejo e das pretensões de dona Sarah, trata do assunto com o presidente Figueiredo que se prontifica a recebê-la.

É do livro do Ministro Saïd Farhat o trecho seguinte: "O Presidente concordou em conceder a audiência e indicou a sua disposição de atender os três pedidos. Ao sair de seu gabinete, o Presidente me acompanha à porta, como era seu hábito, e fala-me elogiosamente da operosidade de Juscelino e da sua clarividência em matéria de desenvolvimento social. Figueiredo menciona ainda a relativa pobreza de JK. Perguntei-lhe como sabia. Figueiredo respondeu-me que ele próprio fizera o inquérito sobre a vida passada de Juscelino e nada de sério encontrara a desabonar a honradez do ex-Presidente da República. Não me contive e indaguei: por que então foi cassado? Respondeu-me Figueiredo com sua franqueza habitual: 'Porque Costa e Silva queria.'

"A cassação de Juscelino visava a impedir que ele viesse a concorrer à Presidência, ou se mantivesse ativo, politicamente, servindo como elemento polarizador dos que desejavam o poder restituído à sociedade civil.

"Era parte do processo de tomada do poder pelos militares e que, mais adiante, ficaria representado e corporificado na candidatura do então Ministro do Exército, Marechal Costa e Silva, à sucessão do Presidente Castelo Branco." Assim relata Saïd Farhat o acontecimento em seu livro.

O cantor e seresteiro Sílvio Caldas, velho amigo da família Kubitschek, recebido em audiência pelo Presidente Figueiredo, achou oportuno também informá-lo a respeito da luta e das dificuldades encontradas por dona Sarah em Brasília, onde pretendia erguer o Memorial JK. Como o Ministro Saïd Farhat, também pediu ao Presidente que a recebesse; Figueiredo, já sensibilizado com a idéia, repetiu que teria prazer em recebê-la se solicitado, como já havia prometido ao seu Ministro.

Dona Sarah tomou conhecimento do pedido e da disposição do Presidente, quando assistia a um jornal de TV no Rio, no qual se noticiava a audiência com Sílvio Caldas. Não perdeu tempo. Com o dinamismo que lhe era peculiar, tomou logo as providências preliminares para a tão desejada audiência. E no dia 18 de julho de 1979 é recebida pelo Presidente Figueiredo, que lhe abre as portas do Palácio do Planalto, em Brasília, para a concretização de seu sonho. Na oportunidade, o Presidente já autoriza a escolha e doação do terreno para a construção do Memorial. Ao término da audiência, bem no estilo de JK, dona Sarah marca a data da inauguração: 12 de setembro de 1981, e convida o Presidente para as solenidades daquele dia. O presidente Figueiredo designa o jornalista Alexandre Garcia, da Secretaria de Comunicação Social, para servir de ligação entre o Palácio e dona Sarah.

Constitui-se a primeira Comissão para a construção do Memorial JK: Sarah Kubitschek, Adolfo Bloch, Márcia Kubitschek, Maria Estela Kubitschek Lopes, Rodrigo Paulo de Pádua Lopes, Oswaldo Mala Penido e Victor Nunes Leal. A 22 de agosto de 1979, em marcante e comovente cerimônia no Palácio do Buriti, o Governador Aimé Alcebíades Lamaison faz entrega a dona Sarah do terreno onde seria construído o Memorial.

No dia 11 de setembro é editado um Decreto do Governador Lamaison, determinando que o dia 12 de setembro, data natalícia do ex-Presidente Kubitschek, fosse comemorado como o "Dia do Pioneiro".

Dona Sarah, incontinenti, solicita ao famoso arquiteto Oscar Niemeyer a elaboração do projeto do monumento. Em uma semana apenas recebe das mãos de Niemeyer, graciosamente, o projeto do Memorial JK, hoje apontado entre os mais belos monumentos do mundo.

Em apenas 17 meses, sem que a difícil e onerosa administração da obra custasse à Sociedade Civil Memorial Juscelino Kubitschek um centavo, a SERGEN - Serviços Gerais de Engenharia S.A., sob a direção do engenheiro Sérgio Gomes de Vasconcelos, entrega o Memorial em condições de ser inaugurado. Ao Memorial restaram as despesas relativas ao material e mão-de-obra, num total de aproximadamente Cr$ 280.000.000,00 (duzentos e oitenta milhões de cruzeiros), valores da época, arrecadados como doações. Povo, Governo e Oposição uniram-se numa demonstração grandiosa de que o entendimento, a concórdia e a conciliação são possíveis quando os objetivos transcendem o interesse individual, o interesse partidário. O Memorial é um somatório de esforços partidos desde as mais humildes camadas da sociedade até os mais altos escalões do Governo. No dia 12 de setembro de 1981, conforme compromisso de dona Sarah, o Memorial é solenemente inaugurado e aberto à visitação pública.